No final de 2006 recebi uma tarefa da escola da minha filha mais velha. Relatar “como foi seu primeiro dia de aula?”. No início pavor. Eu? Não lembro de nada. Aliás, nem lembro onde foi, nada, nada.....mas de repente comecei a voltar a fita e algumas coisas, provavelmente as mais significativas, foram aparecendo na “telinha” cerebral.
Hoje, 37 anos depois, eu sei que em 1970 a vida dos meus pais não era tão “tranqüila” politicamente como a que eu levo hoje. Não que a minha família tivesse algum tipo de envolvimento político partidário. Não. Mas todos os adultos sofriam, naqueles tempos, uma forte repressão política e social. A censura era geral. As crianças e os adolescentes de hoje, em sua maioria, nem imaginam como eram aqueles dias. Só pra exemplificar, lembro de um episódio bem elucidativo que me aconteceu.
Era tipo 1973 ou 74, eu acho. A moda na época eram as “bixiguinhas”; pequenos balões que a gente enchia de água e atirava nos amigos, inimigos, etc... Coisa de criança, é claro!. Acontece que eu, brilhantemente, resolvi atirar da janela do meu quarto uma dessas bixiguinhas numa mulher que passava bem em frente ao prédio que a gente morava no Menino Deus. Sétimo andar. Acertei. Óbvio. Ela gritou, esperneou...e eu bem quietinho dentro de casa. Nem um pio. Minha mãe nem sonhava que eu estivesse fazendo aquilo. Glória total!
Na noite seguinte, hora do jantar, tocou a campainha. Minha avó abriu, chamou meu pai. E então o susto. Era um coronel do glorioso exército brasileiro que queria dar voz de prisão ao responsável pelo abominável insulto a sua esposa. Meu pai teve de argumentar muito para não ser preso por aquele oficial arrogante, pretensioso e “dono do mundo” (todos esses adjetivos somente descobertos por mim anos mais tarde). Claro, levei um castigo daqueles tempos. Só não apanhei porque meu pai não costumava bater na gente. Bastava olhar que já dava vontade de ir ao banheiro. Outros tempos de autoridade e respeito. Mas isso já é outra história. Voltando ao assunto.
Dentro da nossa casa era o padrão da época. Pai trabalhando muito; mãe também, cuidando dos filhos e da casa. Tudo dentro “dos conformes”.
Em março daquele ano (já escrevi tanta coisa que já devem ter esquecido – 1970) eu fui para escola acompanhado da minha mãe e da minha irmã, 6 anos mais velha do que eu. Minha irmã me ajudou muito com a “nova rotina”. Havia feito somente 2 meses de Jardim de Infância e em seguida férias. Até hoje não sei bem por que. Só 2 meses e .....fim.
Cheguei à escola a tarde. Morava a umas duas quadras do Grupo Escolar Paula Soares, como era chamado na época o que depois se tornou Escola Estadual Pio XII. Tudo era muito grandioso. Assustador às vezes. O caminho para o colégio era comum. Sempre brincava por ali. Naquele tempo se brincava na rua mesmo. Mas o pátio, a sala de aula, a primeira visão da professora, Dona Ilva foi de apertar o peito.
Logo em seguida tudo foi melhorando. A “prôfi” era muito calma e tinha uma paciência muito grande com a gente.
Minha expectativa era, certamente, muito diferente da realidade da Giulia, minha primogênita, que freqüentou uma maravilhosa pré-escola desde os 2 anos. Para ela imagino que tudo será, ou já é, muito mais fácil e divertido. Está preparada e segura (assim espero!). Comigo e com todos do meu tempo era bem mais difícil. Não éramos acostumados ao confinamento, às carteiras da sala de aula, a disciplina do ensino primário. O nível de cobrança na minha casa até não era muito grande, mas meu pai sempre dizia – a única coisa que tens de fazer é estudar, portanto!?!. Tipo assim, TE VIRA.....
Resumindo, mesmo assim foi uma experiência muito legal, gratificante e me fez amadurecer bastante.
Espero que minha filha tenha, daqui a algum tempo, a mesma lembrança agradável que tenho quando me lembro daqueles dias..... É. Não parece. Mas é agradável sim. A gente não ia muito a psicólogos ou orientadores em geral. Era no tranco mesmo. Éramos felizes, ou será que não?
Jader é músico,cantor e locutor. Fornecedor de voz do mercado publicitário nacional super versátil e muito competente. Ouça aqui um dos jingles que ele gravou aqui na Radioativa.
Um comentário:
como obter a letra da musica da propaganda da unimed, cantada por jader??????????meu e-mail:azimutth@gmail.com
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