17 de agosto de 2007

Arthur de Faria



O Arthur de Faria dispensa apresentações. É o cara mais multimídia que conheço: jornalista, músico, produtor musical, arranjador, apresentador de programa de rádio , pai da Maria Antônia entre outras muitas atividades . Amigo de longa data nossos caminhos sempre acabam se cruzando em projetos profissionais, na publicidade, no jornalismo e na música .Até piano à quatro mãos já tocamos juntos. Para saber mais sobre Arthur de Faria e seu trabalho entre no blog http://www.fotolog.com/seu_conjunto e ou no site " Arthur e seu Conjunto " http://www.seuconjunto.com.br/index2.html
O Arthur escreve abaixo um texto muito interessante sobre o show de Fito Paez e a cantora argentina Liliana Herrero referente ao recente show que ambos fizeram aqui em Porto Alegre.



Por Arthur de Faria

Em 2007 se completam 20 anos do lançamento do primeiro disco da mais importante cantora surgida na Argentina, em qualquer gênero, desde Mercedes Sosa. Uma artista que Porto Alegre teve a honra de receber mais uma vez. Desta feita, num encontro inédito, dividindo o palco no Theatro São Pedro, em igualdade de condições, com um de seus maiores admiradores, Fito Paez.
Fito, que será um dos 40 artistas a participar desse mês de eventos, junto com músicos como Luís Alberto Spinetta, Gerardo Gandini, Adrian Iaiés, Teresa Parodi, Ana Prada, mais dezenas de fotógrafos e artista visuais. Além dos lançamentos do livro “Liliana Herrero – Vanguardia y Canción Popular”, de um documentário para cinema e ainda um recital teatral em sua homenagem protagonizado por Cecília Roth e Cristina Banegas.
Mas ao longo de 10 discos e 20 anos, Liliana construiu não só reputação, como popularidade. Uma combinação rara, em qualquer lugar. É uma grande dama louca e inovadora. Como devem ser as verdadeiras grandes damas.
Tudo isso poderia ter sido informado para o público (alô: www.lilianaherrero.com.ar) tanto nas matérias escritas antes do show quanto na sua infeliz crítica. E mesmo se assumimos que a única grande referência de cantora Argentina ainda é a (sensacional), Mercedes Sosa, se poderia citar a própria: “Liliana es una cantora argentina como pocas, quizas como ninguna. La cantora que todos nos merecemos”. E aí o detalhe: o público não tem como saber isso. A não ser que alguém lhe conte. Já para um jornalista com um google à disposição, não pode ser mais lógico ter como única referência a mesma Mercedes. E cometer o equívoco de achar que ela e Liliana são a mesma coisa.
Porque, para qualquer um que escute com atenção as duas, é óbvio que Liliana e Mercedes estão em pólos opostos. Uma representa a tradição, a outra, a inovação. Para quem olha de fora, e só a conheceu no show com Fito, vozes e piano, isso ainda pode ficar meio obscuro. Mas para quem se interessasse em pesquisar minimamente (para, que sei eu, exercer bem o seu próprio metier, por exemplo) ficaria claro que dizer que Liliana “emula” La Sosa é o mesmo que achar - como eu acho - que todos os cantores de hard-rock cantam igual. Mas eu não escrevo sobre shows de hard rock. Se o fizesse, estudaria um pouco antes de escrever. Afinal, a vergonha é a herança maior que meu pai me deixou.
E aí chegamos no ponto que eu quero tocar: pra que serve o jornalismo? Mesmo numa pequena aparente banalidade como uma crítica de um show. Para a edição Argentina da revista Rolling Stone - que enviou um repórter para Porto Alegre única e exclusivamente para cobrir o espetáculo inédito de dois dos maiores artistas de seu país (e jamais o faria para cobrir um show de Fito) -, serve pra contar que a cidade se emocionou com os dois “portoalegrenses adoptivos, que desde Rosario y Villaguay, se convirtieron en ciudadanos de un mundo de canciones sensibles y sublimes.”
Já para a única crítica escrita aqui, e publicada justamente em Zero Hora, serve para qualificar Liliana, que ainda não tem 55 anos, de "velhinha não agradou". E para contar que, segundo o jovem jornalista (felizmente jovem, o que lhe dá o benefício de poder envelhecer), era ela uma "companhia indesejada" pelo público. O mesmo público que foi para ver Fito e, eu estava lá e vi, se rendeu completamente a ela. A crítica do show era justamente o último momento para prestar o serviço jornalístico de explicar para aquele público quem era aquela mulher que recebia ovações cada vez maiores. Que era tratada como uma mestra (e, de verdade, lhe deu aulas de filosofia quando era ainda um menino de colégio) por Fito. Quem é essa mulher?
Quem leu a crítica – e a entrevista “esperta” na fila do banheiro do Ossip – segue não sabendo. É pra isso que serve jornalismo cultural? Pra atacar pop-stars no momento de aliviar a bexiga? Eu, modestamente, acho que não. Acho que serve para pesquisar, aprender, e aí contar. Viver para contar, não é isso? Mas aí precisa ter alguma humildade.
P.S. Só espero que nem Liliana nem Fito leiam o que foi escrito. Não por provincianismo nem nada. Mas só pra eu não passar aquela situação que uma amiga chama de “vergonha pela (outra) pessoa”.


Ouça aqui Liliana Herrero

16 de agosto de 2007

Meu primeiro dia de aula por Jader Cardoso



No final de 2006 recebi uma tarefa da escola da minha filha mais velha. Relatar “como foi seu primeiro dia de aula?”. No início pavor. Eu? Não lembro de nada. Aliás, nem lembro onde foi, nada, nada.....mas de repente comecei a voltar a fita e algumas coisas, provavelmente as mais significativas, foram aparecendo na “telinha” cerebral.
Hoje, 37 anos depois, eu sei que em 1970 a vida dos meus pais não era tão “tranqüila” politicamente como a que eu levo hoje. Não que a minha família tivesse algum tipo de envolvimento político partidário. Não. Mas todos os adultos sofriam, naqueles tempos, uma forte repressão política e social. A censura era geral. As crianças e os adolescentes de hoje, em sua maioria, nem imaginam como eram aqueles dias. Só pra exemplificar, lembro de um episódio bem elucidativo que me aconteceu.
Era tipo 1973 ou 74, eu acho. A moda na época eram as “bixiguinhas”; pequenos balões que a gente enchia de água e atirava nos amigos, inimigos, etc... Coisa de criança, é claro!. Acontece que eu, brilhantemente, resolvi atirar da janela do meu quarto uma dessas bixiguinhas numa mulher que passava bem em frente ao prédio que a gente morava no Menino Deus. Sétimo andar. Acertei. Óbvio. Ela gritou, esperneou...e eu bem quietinho dentro de casa. Nem um pio. Minha mãe nem sonhava que eu estivesse fazendo aquilo. Glória total!
Na noite seguinte, hora do jantar, tocou a campainha. Minha avó abriu, chamou meu pai. E então o susto. Era um coronel do glorioso exército brasileiro que queria dar voz de prisão ao responsável pelo abominável insulto a sua esposa. Meu pai teve de argumentar muito para não ser preso por aquele oficial arrogante, pretensioso e “dono do mundo” (todos esses adjetivos somente descobertos por mim anos mais tarde). Claro, levei um castigo daqueles tempos. Só não apanhei porque meu pai não costumava bater na gente. Bastava olhar que já dava vontade de ir ao banheiro. Outros tempos de autoridade e respeito. Mas isso já é outra história. Voltando ao assunto.
Dentro da nossa casa era o padrão da época. Pai trabalhando muito; mãe também, cuidando dos filhos e da casa. Tudo dentro “dos conformes”.
Em março daquele ano (já escrevi tanta coisa que já devem ter esquecido – 1970) eu fui para escola acompanhado da minha mãe e da minha irmã, 6 anos mais velha do que eu. Minha irmã me ajudou muito com a “nova rotina”. Havia feito somente 2 meses de Jardim de Infância e em seguida férias. Até hoje não sei bem por que. Só 2 meses e .....fim.
Cheguei à escola a tarde. Morava a umas duas quadras do Grupo Escolar Paula Soares, como era chamado na época o que depois se tornou Escola Estadual Pio XII. Tudo era muito grandioso. Assustador às vezes. O caminho para o colégio era comum. Sempre brincava por ali. Naquele tempo se brincava na rua mesmo. Mas o pátio, a sala de aula, a primeira visão da professora, Dona Ilva foi de apertar o peito.
Logo em seguida tudo foi melhorando. A “prôfi” era muito calma e tinha uma paciência muito grande com a gente.
Minha expectativa era, certamente, muito diferente da realidade da Giulia, minha primogênita, que freqüentou uma maravilhosa pré-escola desde os 2 anos. Para ela imagino que tudo será, ou já é, muito mais fácil e divertido. Está preparada e segura (assim espero!). Comigo e com todos do meu tempo era bem mais difícil. Não éramos acostumados ao confinamento, às carteiras da sala de aula, a disciplina do ensino primário. O nível de cobrança na minha casa até não era muito grande, mas meu pai sempre dizia – a única coisa que tens de fazer é estudar, portanto!?!. Tipo assim, TE VIRA.....
Resumindo, mesmo assim foi uma experiência muito legal, gratificante e me fez amadurecer bastante.
Espero que minha filha tenha, daqui a algum tempo, a mesma lembrança agradável que tenho quando me lembro daqueles dias..... É. Não parece. Mas é agradável sim. A gente não ia muito a psicólogos ou orientadores em geral. Era no tranco mesmo. Éramos felizes, ou será que não?



Jader é músico,cantor e locutor. Fornecedor de voz do mercado publicitário nacional super versátil e muito competente.
Ouça aqui um dos jingles que ele gravou aqui na Radioativa.